Acordei sozinha. As cobertas estavam no chão, e o ar frio da manhã adentrava o quarto pela janela entreaberta, fazendo-me tremer um pouco. Levantei, abri a gaveta do bidê e observei meus sentimentos enterrados debaixo da bagunça. Deitei novamente.
De olhos fechados, tentei lembrar alguma coisa marcante do que aconteceu horas antes. Qualquer coisa que me fizesse retirar meu coração daquela gaveta empoeirada. Em vão. Nada veio à minha cabeça. Nada. Desapontada, estiquei o braço e toquei o travesseiro vazio ao meu lado. Não estava assim na noite passada. Aliás, não esteve assim nas noites anteriores.
Quatro vezes em uma semana a história se repetiu. Quatro garotos. Quatro vidas diferentes que cruzaram meu caminho. E agora, mais um dia que corre e uma noite que chega, e outra pessoa bate em minha porta. O mesmo papo furado de sempre. O mesmo jogo de perguntas e respostas. O mesmo beijo roubado. Nada muda. Todos seguem o mesmo roteiro, inclusive eu.
Uma peça de roupa é tirada. Em seguida, corpos nus. Gemidos, arranhões. Respiração ofegante. E fim. Ele vai embora antes do amanhecer, e eu continuo deitada, preenchida de mais um nada. Costume bobo esse meu: preencher-me com o vazio. Sexo rápido, relações efêmeras. Uma noite, dois corpos e nada mais.
Nada de bom dia amanhã. Nada de um segundo encontro. Sem café na cama ou beijos na testa, sem olhares intensos. Já não sei mais se tenho algo a oferecer.

0 Comentários