Fechei os olhos quando te vi pegar a última caixa, trancar a porta e ir para o caminhão. Não queria armazenar aquele momento na memória: quando te vi pela última vez.
Já tem um ano, mas o adeus permanece sendo tinta fresca na minha cabeça. Às vezes ouso encostar-me e manchar meu vestido favorito nela. É como uma reprise de um episódio da minha série favorita que, quando sento para assistir, não sei dizer se é meu episódio favorito ou o que mais odeio.
Juro que tento não pensar em ti só que é mais forte do que eu.
Fora que é quase impossível te fazer desaparecer completamente da minha vida. Por vezes olho para a estante e consigo ver seus livros enfileirados na prateleira, que agora só acumula poeira; ou suas roupas nos cabides vazios do closet. A marca da aliança deixada pelo sol, após anos usando-a, permanece no meu dedo: um pedaço de nós que ainda vive em mim e que marca minha pele.
Toda vez que vejo um Gol branco estacionado, lembro-me dos nossos passeios no seu Gol branco.
Não há como te deixar partir, pois não lembro a última vez que te vi: eu fechei os olhos.

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