A tarde estava linda. O sol brilhava, o vento soprava na copa das árvores e o farfalhar dos galhos era uma adorável canção de fim de dia. Haviam muitos pássaros no céu, eles eram pontinhos destacados naquela imensidão azul quase sem nuvens. Os grilos faziam barulhos, enquanto saltitavam na grama. Uma pequena borboleta azul e cinza sentou-se com toda sua delicadeza em uma rosa vermelha. Estava tudo incrível. Perfeito. Acho que quando estamos apaixonados vemos o mundo com outros olhos. Aliás, acho que se apaixonar é abrir os olhos para a beleza da vida.
Você disse que queria conversar comigo. Eu estava esperando ouvir coisas boas, pois além de o dia estar maravilhoso, na noite anterior tínhamos conversado, nos beijado e marcado um encontro para a noite do dia seguinte. Então, na minha cabeça, só podia ser algo bom que ouviria de ti.
Nos sentamos em uma mureta nas escadas do terceiro andar de um café que ficava em frente a um belo lago, ladeado por uma paisagem exuberante. O clarão do sol refletia em seus olhos castanhos profundos. Meu coração batia de forma descomunal e um sorriso inocente brilhava em meus lábios. Me senti leve e feliz. Tão leve quanto a luz do sol. Tão feliz quanto uma criança que acabou de ganhar um doce.
Os grilos continuavam cricrilando, o vento continuava sua melodia e os pássaros continuavam com seus voos sincronizados. Tudo continuava em perfeita sincronia. Até mesmo meus batimentos pareciam ter se acalmado. Nada podia dar errado.
Então você parte meu coração.
Assim mesmo, direto e franco. Como facas afiadas, você foi cravando suas palavras uma a uma em mim. Senti uma dor terrível na região do coração. Não conseguia mais olhar para ti. Era doloroso continuar ali. Minha vontade era tapar os ouvidos, fingir que não tinha escutado nada. Mas não. Fiquei imóvel enquanto era golpeado. O término de algo que ainda nem havia começado.
O som genuíno das árvores foi aos poucos transformando-se numa sinfonia infernal, ensurdecendo meus ouvidos e, juntamente com os grilos, martelava em minha cabeça. Os belos pássaros se transformaram em corvos e formaram uma sombra em mim, uma sombra sob meus olhos e sob meu coração, tornando a tarde ensolarada em uma noite sombria. Minhas pernas tremiam, minha voz não queria sair -e quando saía era apenas um gemido fraco, quase inaudível. Queria pular do terceiro andar e, como um peso morto, cair em queda livre.
Depois de um abraço desajeitado, te vi partir. Não olhei para trás, pois não queria fixar uma lembrança desse adeus. Sentei no chão de pedra e recostei minha cabeça no muro. Jurei que não choraria, porém conforme repassava os últimos minutos na minha cabeça, mais uma lâmina era cravada em meu peito. E foi assim por vários minutos, que mais pareceram horas. Limpei os olhos e corri sem rumo. Queria correr atrás de ti, mas já era tarde. Não tenho para onde ir, e não sei como parar essas teimosas lágrimas.
Amar dói. O adeus, ainda mais.

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