Foi meu primeiro cigarro. A taça de vinho sempre fôra companheira nas horas de solidão, mas esta é a primeira vez que fumo um cigarro. Acendo o segundo enquanto escrevo. Prefiro pensar que eles são flores, e que a fumaça é uma semente, pronta para brotar dentro de mim. Estou triste, isto é um fato. Só que é um tipo diferente de tristeza. É uma dor amarga, que me dá vontade de vomitar. O tipo de dor de uma despedida, quando você sabe que não tem volta; como uma bala depois de disparada. 

Soluço, mas não estou chorando. Não consigo derrubar uma lágrima sequer. Acho que a raiva me cega e é mais forte que qualquer sofrimento que me abata. É torturante sentir o ódio latente nas veias, porém nada posso fazer. Queria sumir, desaparecer, recomeçar. Morrer. Só que não sei o que é a morte, e a dúvida é pior que esse martírio.

Estou perdida. Perdida de uma forma que não consigo me encontrar. Entrei num poço tão fundo que, ao invés de tentar subir, estou cavoucando a lama, afundando no desgosto, na infelicidade, na tristeza. Não sei mais quem sou nem o que quero. Não tenho um ombro no qual chorar, um norte para me guiar. 

A solidão é como um areia movediça -e cansei de lutar para sair. Permito-me deixar que ela me leve ao fundo.

Será que morrer é como nadar? Sentir-se leve, boiar na água e afundar lentamente? A água preenchendo os pulmões, roubando o oxigênio ao poucos, permitindo-me apreciar os peixes enquanto sufoco? Permitindo-me ter um vislumbre da vida que parte e do surpreendente que me espera do outro lado? 

Um arrepio percorre minha espinha. Como cheguei a esse ponto? Se esse é um jogo de Jenga, será que tirei uma peça errada e minha torre decidiu balançar? Cair? Vou perder? Isso é (quase) uma certeza. Acho que desisti de tentar. A primeira lágrima resolveu descer, justo agora.

Acendo o terceiro cigarro. Será uma longa noite. 

Até amanhã haverá um jardim florescido em meus pulmões. 

Talvez uma rosa alcance meu coração e eu consiga voltar à vida.