Somos apenas nós dois em um quarto de motel. Quase um mês sem trocar uma palavra e ali estávamos nós. O silêncio perpetua. Lá fora os grilos cricrilam incansavelmente, mas aqui dentro nada se ouve. Está frio e o ar condensado sai de nossas bocas, formando uma fumaça no ar, e se desfaz segundos depois. É pesado continuar ali. Algo entre nós estava mudando. Aliás, ambos estávamos num processo de mudança. 

Eu já não sou mais aquela garota dócil e amorosa. Você já não é aquele cara romântico, que me mandava flores e escrevia poemas. Somos estranhos um para o outro. Não estou dizendo que não te amo mais, pois seria impossível deixar de te amar, mas acredito que pegamos rumos diferentes, sintonias diferentes, seguindo em direções opostas.

Mantenho o silêncio intacto, porém levo minha mão até seu rosto. Meu toque faz sua pele arrepiar e seus olhos, que até então focavam o teto, olham fixamente nos meus. Instintiva e ferozmente ataco-o e, quando dou por mim, estamos esparramados um sobre o outro. Sua boca quente mordendo a minha, suas mãos hábeis tocando meu corpo, minha língua percorrendo seu pescoço, sua barriga, sua virilha...

Minha boca não conhece limites, e explora precisamente cada parte do seu corpo. Você geme alto, o que me proporcionava mais tesão ainda. Meus dedos deslizam pelo seu corpo delicadamente, fazendo-te se contorcer como uma minhoca sendo esmagada. Somos perfeitos. Você levanta rápido e me joga de bruços sobre a cama. Suas mãos agarram-se às minhas e então você me invade. Devagar. Com calma. E então sai de mim. E volta. E sai. Tudo com muita paciência. Até que, de repente, as coisas mudam. A velocidade das suas entradas e saídas aumentam, e você vai cada vez mais fundo, com mais força.

Mordo fortemente a fronha do travesseiro. É uma dor aguda, única e espetacular. Eu estava me sentindo a vadia que queria ser, a vadia que não se importa em ver você pegando suas malas e indo embora. A vadia que não liga para mais nada, apenas para o tesão e o prazer do momento. Quando você está sobre mim, o resto do mundo é apenas o que sobrou de uma explosão. Nós éramos o universo nesse momento. O meu universo.

Após muitas estocadas, cansado, você deita ao meu lado -tinha chegado a hora de eu entrar em ação. Passo minhas pernas por cima de ti e sento sobre seu corpo. É como morder o fruto proibido. Desligo-me de tudo e foco em te dar prazer, rebolando e contorcendo meu corpo. Nossos gemidos são a música que mais gosto de ouvir. Juntos chegamos ao ápice do prazer. Ofegante, caio ao seu lado. 

Silêncio. E então começamos de novo.

Horas mais tarde, após incontáveis orgasmos, o cansaço me abate e acabo dormindo. Acordo de sobressalto, quando ouço um barulho vindo do outro lado da cama. Abro levemente os olhos e te observo vestindo as roupas, calçando os sapatos -muito bem engraxados por sinal- e, pisando delicadamente em direção à porta, abrindo-a e saindo. 

Nada de beijo na testa, nada de me acordar. Nada. O dia nem sequer tinha amanhecido e você estava indo embora. Fecho os olhos e tento não pensar em como aquilo doí. Sua esposa te espera em casa. Será recebida com flores -e ela sim receberá um beijo na testa-, dormirá a noite toda ao seu lado. Me pergunto se é ela quem engraxa seus sapatos?

Sempre imaginei que amar alguém seria a melhor sensação do mundo, e que eu e essa pessoa faríamos amor, ao invés de apenas transarmos. No início nós dois éramos exatamente desta forma -sua esposa era apenas um detalhe que ambos ignorávamos- porém sinto que te perdi, que transamos por transar. 

Me machuca que as coisas estejam assim, mas, se quer saber, não abriria mão disso. Não trocaria nossas transas nem mesmo por todo o amor do mundo. Ela pode ter seu coração, mas sou eu quem tem seu prazer.