É estranho sentir-se sozinho num ambiente tão cheio. Faz você parecer completamente deslocado. Talvez seja a música errada, talvez sejam as pessoas erradas; ou talvez seja apenas eu, tentando me encontrar em meio à solidão. A questão é que desligar-se do mundo é algo que poucos conseguem fazer, e é uma arte que domino.
Tarde da noite.
Estou num canto da balada escrevendo para alguém que sequer me conhece. Um olhar trocado, um sorriso e um movimento discreto de cabeça. Apenas isso e nada mais que isso. "E se...?"; "Será que...". Perguntas norteiam minha cabeça, mas não sou capaz de respondê-las. Um copo de vodca, um cigarro e um caderno velho são meus companheiros de noitada.
Nenhuma palavra será dita por nossos lábios. O som alto e as luzes trêmulas serão as únicas testemunhas desta história de amor que durará apenas por uma noite -e será sustentada apenas por nossos olhos. Apenas isso e nada mais que isso.
Mas então seus olhos viram para o outro lado e sou carta fora do baralho. Outra pessoa viverá nossa história de amor contigo, outra pessoa receberá seu sorriso e seu gesto de cabeça. E eu serei apenas mais um cara sentado num canto da festa, mais um escritor abandonado.
E essa será apenas mais um conto de boteco, inventado e arquivado na imaginação desse pobre colecionador de palavras.

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