Lembranças de nós dois mancham meus pensamentos como uma parede rabiscada. Os fragmentos da nossa história me confundem. Por vezes esqueço de quem sou e só consigo lembrar de quem éramos. Quero te arrancar da cabeça, mas aí penso nos momentos bons e não me permito te odiar. 

Tento focar em outras coisas. Olho o relógio. São apenas onze da manhã. Tantas horas para o dia acabar. Tantas horas para sentir a dor me corroendo. Torço para que o tempo passe voando, porém lembro que amanhã será outro dia -e é mais um dia sem você. 

Corro pela casa, choro pelos cantos. Rasgo tuas fotos. Deleto tuas mensagens. Abraço teu moletom esquecido em meu quarto naquela quarta-feira de inverno. Minha rotina é tentar te esquecer, entretanto quanto mais tento, mais afundo nas areias movediças do passado. É tudo tão recente mesmo sendo tão longínquo. 

Eu estava acostumada com o seu barulho preenchendo a casa, com suas roupas jogadas em cada canto, seus sapatos empilhados perto da porta. E agora só tem um vazio sem fim. O eco preenche os buracos deixados pela solidão. Ainda te vejo em cada carro branco que passa, em cada homem de óculos e barba, em cada música que toca no rádio Fico sufocada em casa, tento me distrair indo pra rua, mas no fundo espero te encontrar. 

Espero te encontrar naquele café que costumávamos ir ou naquela praça que passeávamos, só que você nunca está lá. Espero te encontrar na porta do meu prédio, com um sorriso de canto e uma garrafa de vinho na mão, pedindo desculpas e pronto para recomeçar. 

Tolice, eu sei. Isso não vai acontecer.